sábado, julho 12, 2008

Crime e pesadelo

Vejam só quem me aparece em sonho: ninguém menos que Fiódor Mikhailovich Dostoievski. O barbudo e epilético escritor russo surgiu cambaleante na porta do meu quarto, com cara de quem havia acabado de perder uma boa grana no jogo, para variar:

- O que você está fazendo dormindo? - ele perguntou, sentando-se na ponta da cama, com as duas mãozinhas entrelaçadas ao joelho, exatamente como na imagem mais famosa.

- Não sei como é, ou era, na Rússia. Mas aqui nós fazemos isso todas as noites.

- Já imaginou quantas idéias geniais você já perdeu enquanto dormia?

- Mas a de hoje eu vou me lembrar, com certeza.

- Você está muito acomodado ultimamente, sabia?

- Ah é? Então estou sendo acompanhado assim tão de perto?

- Deixa eu lhe contar um segredo. Lá onde nós estamos agora, eu e os outros escritores temos à disposição uma enorme biblioteca. E vasculhando a seção latino-americana nós encontramos você.

- Ao lado da Nélida Piñon, eu aposto.

- Nada disso. Imagine uma enorme biblioteca, na qual estivessem registradas as biografias de todas as pessoas do mundo.

- Isso é coisa do Borges, não?

- É. Ele hoje é o responsável por organizar, quer dizer, desorganizar tudo. É por isso que eu estou aqui.

- Sei...

- Não sabe, não. As páginas da sua biografia estão incompletas. Você não sabe como são os cupins lá do outro lado... O negócio é que eu fiquei encarregado de reescrever a sua vida, mas fiquei meio travado depois que você publicou o seu livro e...

- Se o segundo não sair a culpa não é minha. A Rocco atrasou com a resposta.

- Não estou falando em escrever, e sim em algo mais... literário. Já pensou em cometer um crime?

- Do tipo, matar uma velhinha para quem eu devo grana?

- Esquece, seu engraçadinho. Depois, quando a gente se reencontrar, não vai reclamar que a sua biografia está uma merda.

- Não se preocupe. Antes disso acontecer eu contrato o Fernando Morais pra escrever alguma coisa sobre mim e o caso está resolvido.

- Está certo. Então a gente se fala.

- Um abraço, Dostô. E se estiver a fim de escrever algo novo, pode deixar que eu psicografo. Não vai me procurar a Zibia Gasparetto, pelamordedeus...

- Combinado.

5 comentários:

Marco disse...

Sonhar com Dostoieviski? Isso é meio esquisito...

Anônimo disse...

É Marco. Os últimos posts andam muito esquisitos! Brincadeira!

Discoteca Completa disse...

Tem razão, os dois. Sonhar com um velho barbudo sentado na minha cama é, no mínimo, esquisito.

Anônimo disse...

Genial o conto, Vini. Mas fica a dúvida, a conversa foi em que idioma?

Discoteca Completa disse...

Sumida deste blog, hein?

Dostô fala muito bem a língua de Camões e Pinheiro, pelo menos nos meus sonhos...