Atento observador da beleza feminina – até o limite em que o compromisso matrimonial me permite – não posso deixar de me indignar com mais um cruel fenômeno provocado pela ditadura da beleza: o exílio das pernas.
Eu explico: com a superestimada exposição dos seios – acompanhados de suas respectivas próteses de silicone – formando com a onipresente bunda uma espécie de “república do café-com-leite”, as pernas acabaram relegadas a um estranho e inexplicável esquecimento.
Uma das justificativas para o acobertamento de tão esplêndida parte do corpo atende pelo nome de “celulite”, uma obra de ficção criada por empresas de cosméticos e, dizem, captado apenas pela visão feminina.
De uns tempos para cá, exibir as pernas – um claro sinal das conquistas femininas (feministas?) na última metade do século passado – virou sinônimo de vulgaridade. É claro que a sociedade (com o perdão da má palavra) estabelece limites e, no caso das pernas, uma determinada centimetragem de pano não faz mal a ninguém. A mesma regra, porém, não parece ser válida para os decotes generosos e calças ultra-apertadas, que continuam a ser exibidos nos ambientes de trabalho e eventos sociais sem ser importunados.
Alguns de vocês vão me chamar de saudosista. Afinal, o que eu queria? Que a todo momento fosse possível cruzar com mulheres vestidas como quem anda no calçadão da praia de Santos? Pode ser, mas não posso deixar de apelar para o leitor, ou melhor, para a leitora deste S&P: tire do armário aquela velha mini-saia, bata no peito (siliconado ou não) e, com orgulho, revele suas pernas ao mundo!