quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Hora do pesadelo

Fui recepcionado no trabalho por um colega, com quem tenho pouca afinidade. Ele me abordou com um ar sombrio e a expressão fechada:

- Minha mulher sonhou com você esta noite.

Minha reação, como era de se esperar, foi de total perplexidade. Inclusive demorei para me lembrar quem era a mulher do dito cujo. Eu mal a conhecia e, portanto, não compartilhava de um grau de intimidade suficiente a ponto de protagonizar um sonho.

Antes que eu pudesse explicar o inexplicável, inclusive para mim, ele completou, lacônico e dando-me as costas em seguida:

- Achei que você precisava saber. Ela sonhou que você estava morto.

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Futuro best seller

A quem interessar possa: finalmente concluí a revisão do meu novo romance. Quer dizer, esse processo nunca acaba, mas acho que cheguei num ponto que considero satisfatório. O livro se chama Regressão – as vidas passadas de Alberto Franco. Como já entrega o título, o protagonista de O Roteirista está de volta. Os detalhes sobre a história estão em uma sinopse que enviei à editora e publicarei aqui oportunamente. Por enquanto, fiquem com um trecho do romance:

Você deve imaginar como me senti: ludibriado, à primeira vista, ao me deparar com a figura dela, a brincar entre os cubos de gelo do drinque transparente com o canudo colorido, o biquinho no formato de um beijo cerrado, os dedos pequenos e os olhos concentrados na tarefa. Ludibriado, pois a cena não passava de uma fraude, ela notara minha presença segundos antes e esforçava-se em chamar a minha atenção de forma premeditada. Ludibriado, e eu quase podia adivinhar seu nome, se ela não se antecipasse e soletrasse uma a uma as letras, C-L-A, formando uma pequena onda de calor e saliva nos lábios antes da segunda e derradeira sílaba, R-A.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Bafômetro

Juliana e eu saímos neste fim de semana para a nossa primeira balada desde o nascimento do André. Fomos à festa de aniversário de uma amiga, daquelas que simplesmente não se pode perder. Foi tudo ótimo, do local à seleção musical, embora meu humor tenha oscilado bastante durante a noite...

Na chegada...
Juliana: Olá, Fulano(a)! Este é o Vinícius.
Fulano(a): Oi, Vinícius! A Juliana fala muito de você.
Vinícius (imóvel): Ah...
Fulano(a): E o livro, como andam as vendas? Me contaram que o lançamento foi um sucesso...
Vinícius: É.
Fulano(a): Ela me contou que você cobre economia e mercado financeiro. Uma loucura, não?
Vinícius: hum-hum.

Duas taças de pró-seco depois...
Vinícius (gesticulando): Sabe, Fulano(a), O Roteirista é uma metáfora da sociedade que valoriza a imagem acima de tudo, mas escrito de uma forma leve, sem o tom rancoroso que costuma marcar esse tipo de romance. Na verdade, trata-se de uma comédia acidental, com uma narração que oscila entre o trágico e o vulgar. Não é à toa que eu concentro todas as referências do personagem em situações supostamente fora do escopo...

Mais duas doses de uísque red label depois...
Beatles: "Well, shake it up baby now!"
Vinícius (dançando): Shake it up baby…
Beatles: "Twist and shout!"
Vinícius: Twist and shout…

Mais uma dose de caipirinha com gengibre depois...
Vinícius (irritado): É claro que eu tenho condições de dirigir! Tá achando que eu bebi demais? Ora, eu não estou falando alto, é a droga dessa música que me deixa surdo. Não, eu não vou te dar a chave do carro...

Para resumir a história, pouco antes de sairmos da festa os anfitriões distribuíram picolés aos convidados, o que contribuiu para elevar um pouco o nível de glicose na minha corrente alcoólica e impedir um vexame. E, não, eu não dirigi de volta para casa naquela noite.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Reticências

A mulher ia de um lado para o outro com um único propósito: chamar a minha atenção. Negra, alta (muito alta) e bela (inebriante). Eu mal podia vê-la, mas sabia que ela acompanhava todos os meus movimentos. Ambos estávamos ali a trabalho: eu cobria a palestra de um executivo, ela recepcionava os convidados, que um a um se desmanchavam ao encará-la de frente.

Enquanto o burocrata falava, e eu anotava de modo febril, comecei a enxergar o mesmo discurso proferido pela boca dela, a qual eu apenas idealizava: sólida, levemente úmida e camuflada por uma espessa camada cosmética. Depois, aproveitando-me da proximidade imaginada, percorri-lhe o resto do corpo, até perder o controle em algum lugar próximo à virilha e me espatifar contra o solo.

Teria sido mais simples lidar com a situação se pudesse compartilhar meus sentimentos com quem estivesse por perto. Ao meu redor, porém, somente jornalistas fêmeas, indiferentes ao pecado que nos rondava. Tentei, então, ignorar os apelos da mulher por conta própria e me concentrar no trabalho: escrever, escrever, escrever. Porém, sem que eu percebesse, os sujeitos, verbos e predicados começavam a tomar forma no pequeno bloco de anotações e pareciam chamar por ela.

Não, havia de ser somente mais uma ilusão provocada pelo colarinho enforcado pela gravata e o calor do paletó no ambiente asfixiado. Pois se as palavras realmente tivessem voz, na certa ficariam surdas e mudas, como eu fiquei no momento em que ela veio até mim e revelou.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

A culpa é do Fidel

“Não consigo mais. Eu peço desculpas, mas não consigo mais...”

Com graves problemas de saúde, El Comandante (ou “Coma Andante”, para os engraçadinhos de direita) Fidel Castro anunciou a aposentadoria depois de módicos 49 anos na “presidência” de Cuba. A verdade é que o controvertido líder esquerdista já deveria ter pedido para sair há muito tempo, há uns 45 anos, para ser mais preciso. Uma pena que ele tenha dado o gostinho da vitória aos EUA justamente no governo do tio Bush...

Classificação S&P:
Fidel Castro: "D+" (deixaremos a história dar seu veredicto...)

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Desejo proibido

A confusão da volta das férias foi tamanha que até esqueci de relatar minhas impressões sobre o filme Desejo e Reparação, um dos fortes concorrentes ao Oscar deste ano e minha última incursão ao cinema. E se me esqueci foi com certeza porque não se tratava de grande coisa. Vamos aos pontos:

Chatice – Sabe aqueles filmes que forçam a barra para parecerem mais densos do que realmente são? A carapuça serve perfeitamente em Desejo e Reparação. Tudo conspira para tornar a atmosfera pesada, como prenúncio da pequena catástrofe que mudará para sempre a vida de todos os envolvidos na história... Ora, se eu quiser assistir a um dramalhão nem preciso sair de casa, basta sintonizar na novela. Classificação S&P: “B”

Livro – O filme é uma adaptação do romance Reparação, de Ian McEwan. Pelo que se fala, o livro é uma pequena obra-prima. A trama de fato tem algo de brilhante, mas que só aparece de relance durante as duas horas de projeção. Tive a sensação de que o filme não chega aos pés do original, mesmo sem tê-lo lido. Classificação S&P: “A-”

Keira – É o corpo (principalmente) e a alma do filme. Como atriz, Keira Knightley continua muito fraca. Mas quem se importa? Nesse sentido, devo reconhecer que o diretor foi bem esperto e procurou, sempre que possível, encher a tela com a presença da belíssima, maravilhosa, estonteante, tentadora, admirável, arrebatadora... do que eu estava falando mesmo? Classificação S&P: “A+”


quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Chuchu Highlander

Quem considera o companheiro Lula um mau articulador político, com certeza não conhece José Serra. Principal pré-candidato tucano à vaga de inquilino do Palácio do Planalto em 2010, o governador de SP amargou uma grande derrota interna com a eleição do xará José Aníbal para a liderança do PSDB na Câmara.


E que raios essa votaçãozinha tem a ver com a corrida presidencial? Elementar, meu caro leitor. A estratégia de Serra para chegar ao lugar de Lula inclui um acordo com os Demos (ex-PFL), que já deixaram claro que vendem o apoio em troca de uma forcinha do governador para reeleger o asséptico Gilberto Kassab prefeito de Sampa.

Com a perda do controle da bancada, Serra pode ter que tirar o tucaninho da chuva, pois a vitória de Aníbal fortalece o grupo ligado a Geraldo Alckmin. Relegado ao ostracismo após a derrota nas eleições de 2006, o eterno picolé de chuchu deseja ressurgir das cinzas elegendo-se prefeito da capital paulista. Todas as pesquisas indicam que ele atropela Kassab e vai embora sem prestar socorro.

A demonstração de fraqueza do governador de SP também deu munição ao colega carioca, quer dizer, mineiro, Aécio Neves. O sobrinho do Tancredo também cobiça a vaga tucana em 2010 e mostrou que sabe comer pelas beiradas. E não me refiro a modelos, atrizes ou candidatas a miss Brasil...

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

S&P recomenda

Não é apenas um livro. Em Anjos de Barro, o jornalista José Maria Mayrink, que também é meu sogro - ou melhor, eu é que sou genro dele -, tece uma grande reportagem a respeito de crianças e jovens com deficiência. Escrito na década de 1980, trata-se de um relato atemporal, assim como todos os dramas humanos. Após muitos pedidos de reedição, Mayrink - também autor de Solidão, Filhos do Divórcio, 3 x 30 e Vida de Repórter - optou por liberar o download de graça no site da editora Geração.

Clique aqui para baixar

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Quero ser Warren Buffett

Deve ser muito bom ser Warren Buffett. O megainvestidor fez o que nem o presidente Bush conseguiu: dar um jeito no péssimo humor do mercado financeiro. Para isso, bastou anunciar um plano para tentar ajudar as seguradoras de bônus nos EUA. E o que isso quer dizer? Pouco importa, o mais importante é o valor da conta: US$ 800 bilhões. Quem dá mais?

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

A prova

Uma polêmica que surgiu no mundinho fashion do mercado financeiro. Primeiro, falou-se que os países emergentes, entre eles o Brasil, haviam se descolado da crise que atinge a terra do tio Bush. Após o pessimismo geral que tomou conta dos investidores durante as minhas férias, alguns entendidos no assunto voltaram atrás e chamaram o fenômeno que arrastou todo mundo bueiro abaixo - incluindo os "descolados" emergentes - de “recolamento” (ou recoupling, no bom e velho inglês). E o que dizer da bonança de hoje que leva a Bovespa a subir quase 3%? Será que alguém ainda é capaz de duvidar do Efeito Vinícius?

domingo, fevereiro 10, 2008

Vida de gado

Aqui estou eu, feliz e saltitante (trata-se de uma ironia, não de viadagem...), para mais um plantão jornalístico. Não adianta nem tentar escapar, faz parte de uma espécie de pacote de volta das férias. Mas para os supersticiosos como eu, um alento: hoje tem jogo do São Paulo e nunca vi meu time perder aqui da redação...

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Cultuado

Menos, Vinícius, menos... Mas uma boa notícia, enfim. O Roteirista ganhou uma pequena, mas consistente e elogiosa crítica na revista Cult. Se não servir para vender mais, a resenha ao menos dará algum prestígio ao meu prezado romance. Só Deus e os leitores deste S&P sabem como tem sido difícil arrancar um espaço para a divulgação do livro...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Deixe sangrar

Essa história da farra dos cartões corporativos no governo vai render um bom barraco, do jeito que este S&P gosta. Os parlamentares da base lulista deram um golpe certeiro na oposição ao apresentarem um pedido de CPI para investigar a gastança desde a gestão FHC. Será que os tucanos vão concordar em ver exposta em praça pública a fatura do cartão usado pelo magnânimo sociólogo e gênio da raça?

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Imagem e ação

That's all folks. Hoje é meu último dia de férias. Não viajei e quase não botei os pés fora de casa. Pode parecer chato para muitos de vocês. Mas, acreditem, nenhuma viagem me traria a alegria que o carinha da foto abaixo me proporciona...


Nota... dez!

A mania é só minha ou alguém mais gosta de assistir à apuração das notas das escolas de samba, mesmo sem ter visto nada do desfile?